segunda-feira, 28 de abril de 2008

Minha mãe, meu orgulho! =D


No último sábado, dia 26 de Abril, foi realizada a cerimônia de entronização da EMEF Professora Marina Melander Coutinho.
Em outras palavras, foi o dia em que o nome de minha mãe entrou, definitivamente, em vigor na antiga EMEF IV Centenário.
Em mais outras palavras ainda, minha mãe, professora de Português e coordenadora pedagógica, falecida em 2001, dá seu nome à uma escola da região onde morou e trabalhou.
Lindo, não é mesmo?
E é motivo de muito orgulho e felicidade para todos que tiveram o imenso prazer de conhecer e conviver com ela.
A cerimônia foi muito emocionante, com suas músicas preferidas, uma apresentação de Powerpoint com fotos de toda sua vida (infância, adolescência, maternidade, trabalho...).
Eu chorei em todos os momentos, mas consegui, não sei como, me segurar na hora em que eu tinha certeza de que ia afogar todo mundo em lágrimas: meu discurso.
Mas eu consegui... Não chorei! Balancei em alguns momentos, mas me segurei e continuei.
Outra hora muito tocante foi quando meus avós foram convidados para descobrir a placa e a foto da minha mãe que ficará no colégio, afinal, ela é a patrona da escola e todos devem, ao menos, saber quem ela é (foi).
Minha avó tentou, mas não conseguiu disfarçar os olhinhos vermelhos... Mas não chorou! Ela não chora nunca. =/
Meu avô já foi o contrário, chorou bastante, o tempo todo, tanto quanto eu.
Para quem não foi, deixo aqui meu discurso.
Em breve disponibilizarei o vídeo no YouTube e algumas fotos aqui no blog e no fotolog.

"Não basta que tenhamos sido bons, quando deixarmos o mundo. É preciso que deixemos também um mundo bom." (Bertold Brecht)
Marina Melander Coutinho não dá seu nome a essa escola por ter sido uma excelente professora, mas também por sua atuação fora da escola.
Para alguns a palavra professor é apenas um título, para outros é símbolo de autoridade, para Marina sempre foi sinônimo de amigo. E isso ela sempre foi de seus alunos.
O contato dentro de sala de aula estendia-se para fora dela. Marina recebia seus alunos em casa como se fossem da família. Não escutava apenas suas dúvidas sobre Língua Portuguesa, mas seus segredos. Dava-lhes conselhos, carinho e atenção. Conhecia e chamava todos por seus nomes e apelidos.
Não ensinou apenas Gramática e Literatura mas, principalmente, respeito, justiça e solidariedade. Deu esperança e perspectivas a vários jovens que não enxergavam um futuro digno.
Marina sempre incentivou seus alunos e aplaudiu suas vitórias, o fracasso não existia para ela, apenas dificuldades que sempre podiam ser superadas. E quando algum lhe agradecia por ter mudado sua vida ela respondia que o mérito era dele mesmo.
Ela pode não ter deixado um mundo bom, mas melhorou mundos individuais de milhares de pessoas.
Marina não era de falar muito, ela ouvia. Ouvia e agia! Suas atitudes eram sua maior arma.
Quando surgia um problema, quando se deparava com uma injustiça, quando pediam sua ajuda, ela pensava, refletia e, então, agia! Silenciosamente, pacientemente... e resolvia!
Mulher corajosa, sempre defendeu suas idéias e seus ideais! Mas nunca deixou de ouvir e respeitar opiniões contrárias e sugestões.
Não tinha preconceitos. Aceitava as pessoas como elas eram e estava sempre aberta a novas experiências, novas tecnologias, novas formas de viver, falar, pensar, ensinar e aprender.
Em suas aulas usava desde poemas de Fernando Pessoas a rap dos Racionais.
Por onde passava conquistava admiradores: alunos, pais de alunos, colegas de trabalho.
Pode ser um clichê dizer isso, mas deixou marcas profundas em incontáveis mentes e corações.
Hoje, quando encontro ex-alunos e ex-colegas dela, não escuto nada além de elogios, palavras carregadas de saudade e admiração.
Tenho muito orgulho dessa mulher que antes de ser minha professora e amiga, é minha MÃE.
Estou estudando para seguir seu caminho: a educação.
Não pretendo ser igual a ela, mas tudo que fizer será, sim, inspirado nas lições que ela me deixou: respeito, honestidade, competência, perseverança, amizade, carinho, solidariedade, justiça, paciência, coragem e amor. Amor à vida, às pessoas, ao trabalho.
Minha mãe sempre me apoiou em minhas escolhas e, quando achava que eu estava errada, me deixava aprender sozinha. E quando eu sofria pelas conseqüências de meus atos, ela não em repreendia. Me abraçava, beijava e chorava comigo.
Me incentivou a tocar piano, a cantar, a escrever poesia e ficou radiante com todos os prêmios que ganhei nos recitais que ela organizava na escola em que eu estudava e em que ela era coordenadora.
Admirava e elogiava os quadros e esculturas que meu pai fazia. Enchia as paredes de casa com eles e insistia para meu pai expor seu dom, organizando espaços em escolas como verdadeiras galerias de arte.
Não faltava em nenhuma apresentação de violão do Vladi, meu primo, seu sobrinho. Sempre fez questão de dizer o quanto ele era talentoso.
Nunca abandonou o Dudu, meu outro primo, em seus piores momentos e, por mais que não fosse grande apreciadora de seu estilo musical, apoiou, incentivou e escutou com um grande sorriso cheio de orgulho.
Admirava meu tio Eduardo, seu irmão. Aprendeu muitas coisas, ensinou muitas outras. Se respeitavam, se orgulhavam um do outro, compartilhavam lembranças e confidências e se defendiam.
Dedicou-se a vida toda aos meus avós, seus pais. Estava sempre presente e pronta para ajudar.
Comemorava e organizava todos os aniversários, Dias das Mães, dos Pais, Páscoas, Natais e Anos-Novos.
Adorava reuniões em família, a casa cheia de amigos...
Não teve tempo de conhecer minha filha Ana Júlia, mas nem por isso deixa de fazer parte de sua vida. Todos os dias mostro quem era sua avó e tenho certeza que ela terá tanto orgulho e admiração quanto todos nós.
Minha mãe passou a vida fazendo os outros se sentirem especiais, únicos e insubstituíveis e não sabia que, na verdade, ela é que era especial, única e insubstituível.
Minha mãe nunca se deu conta de sua verdadeira beleza, interior e exterior, suas real sabedoria, tudo que ela representava. Achava exagero os elogios que recebia, não por falsa humildade, mas por não acreditar que logo ela, tão simples, tão normal, fosse alguém tão fantástico.
Mas ela era. E sempre será.
Tudo pode ser apagado: suas palavras, textos, poemas, pensamentos e lembranças, pois o que ela deixou de mais importante vai muito além do material. São lições e exemplos que nunca serão esquecidos, pois nos marcaram de tal forma que não conseguimos mais viver sem elas.
Como meu pai está doente e hospitalizado, não pôde comparecer aqui hoje. Pedi a ele que ditasse algo para eu falar em seu nome e, em meio a lágrimas, ele disse o que eu encontrei, dias depois, escrito na tampa de uma caixa de presente que ela havia dado a ele. O texto foi escrito em Outubro de 2001, 6 meses após o falecimento de minha mãe e diz:
"O tempo passa...
Tudo passa...
E a vida passa, também.
Restam as lembranças,
a saudade e a vontade
de tudo recomeçar.
Já não é mais possível
tirar do coração tanto e
tudo que é (foi) bom.
Então, ficamos assim combinados:
sempre, sempre, seremos nós.
Felizes onde estivermos."
E eu digo: Vamos ser felizes!
Isso é o que la sempre desejou e, com certeza, desejaria agora a todos nós.

**Aplausos!!!**

Não chorem, pois eu não chorei! ;)

E como a emoção já passou do limite hoje, amanhã eu conto como foi a visita ao meu pai no domingo.

Só volto depois de 100 comentários.

Beijocas.


PS: A moça bonita da foto aí de cima é a dona Marininha, minha professora, amiga e mãe em 1971.

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